Cruzeiro de Sanguinhedo


“Diz a lenda que um indivíduo, desses grandes lavradores, dos maiores lavradores da aldeia, ia-se por aí a fora deitar a água de noite de torna a torna, nos lameiros, p’ra crescer a erva. Então, ele ia por aí a fora de noite, co a sachola às costas, por aí a fora à uma hora ou às duas da manhã:
– Eu cá não tenho medo a ninguém! Pode vir lá o da carapuça vermelha, que eu cá não tenho medo a ninguém!
E então, numa dessas noites, ele lá com aquelas basofices todas, que se faz um redomoinho e o homem desapareceu e andou não sei por onde muito tempo.
Foi incentivado a desafiar o da carapuça vermelha. Chegou lá e disse assim:

Eu por a porta aqui venho,
Eu por a porta aqui vim,
O da carapuça vermelha
Salte para o pé de mim.

E aí se fez um redemoinho e o homem desapareceu e andou não sei por onde muito tempo. Andou por terras aonde havia cerejas em Janeiro, mas não sabe por onde andou.
Ele que fizera uma promessa de fazer o tal cruzeiro. O homem depois regressou, chegou à terra, e cumpriu a promessa, e o cruzeiro está lá…”

Fonte
AA. VV., – Literatura da tradição oral do concelho de Vila Real s/l, UTAD / Centro de Estudos de Letras (Projecto: Estudos de Produção Literária Transmontano-duriense)