Capela de Nossa Senhora de Guadalupe


A igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, incluindo as 2 pedras tumulares, datadas dos sécs. XVI e XVII, que se encontram na sua nave foram classificados pelo extinto IGESPAR (atual Direção-Geral do Património Cultural) como IIP-Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 8/83, DR, I Série, n.º 19, de 24-01- 1983.

A pequena capela de Nossa Senhora da Guadalupe é um dos templos que melhor reflete o que foi o Gótico vila-realense do século XV. A sua construção ficou a dever-se ao Abade de Mouçós, o Protonotário Apostólico de Vila Real D. Pedro de Castro.

Artisticamente, é um edifício que se relaciona com a rudeza e singeleza da igreja de São Domingos de Vila Real, que lhe serviu de modelo em muitos aspetos.
Com efeito, somos tentados a catalogar esta igreja como um produto tardio românico, quando a sua cronologia não deixa dúvidas sobre o tempo tardo-gótico em que o país vivia, em plena renovação artística proporcionada pela construção do Mosteiro da Batalha. A proporção dos elementos que a constituem (nave única mais elevada e capela-mor retangular rebaixada), a extrema massificação das paredes (com focos de luz ainda constituídos por estreitas frestas) ou a quase inexistência de elementos decorativos (circunscritos ao portal principal, ao óculo da fachada principal, ou aos modilhões que suportam a linha de telhado), são características típicas de um Românico tardio, de resistência, que se prolongou nas zonas periféricas do Norte e Centro do País, muito para além da substituição deste estilo pelo Gótico, nas principais cidades e vilas do reino. Pelo contrário, o portal principal e o arco triunfal, lançados em ogiva, são elementos que denunciam o tempo gótico, mas aparecem aqui tratados como se pertencessem a um Gótico incipiente e experimentalista, mais próprio do século XIII do que do primeiro século da dinastia de Avis.

A cor um tanto rósea do granito, realçada por coloridos líquenes, e a elegante cachorrada, dão ao conjunto um toque de excecional beleza. A faixa lacrimal e os cachorros que vão de um lado ao outro dos alçados laterais quebram-lhes a monotonia. O brasão eclesiástico exibido no exterior da parede fundeira da capela-mor é o selo de origem, testemunho em que a obra foi mandada erigir pelo célebre eclesiástico, Abade de Mouçós.

Por tudo isto, a pequena capela de Nossa Senhora da Guadalupe é um dos principais exemplos do foco construtivo religioso, edificado em torno de Vila Real, na centúria de Quatrocentos. Com a igreja de São Domingos, daquela cidade, e com outros testemunhos dispersos pela região, este templo é um dos mais eloquentes produtos dos caminhos artísticos traçados nesta parcela do País, no século final da Idade Média.

Nas primeiras décadas do século XVI a capela foi artisticamente enriquecida. De 1529 é o painel de pintura mural que forra a parede fundeira da capela-mor, descoberto em 1996 por trás de um frontal de madeira posterior. Apesar de bastante danificado, é um dos mais interessantes conjuntos fresquistas da região, representando a Árvore de Jessé e ostentando o
ano da sua fábrica, bem como uma enigmática inscrição – AM . DRA – possivelmente alusiva ao seu autor.

Também corresponderá a esta altura uma provável solução de teto em madeira, de tipo mudéjar, hipótese colocada por alguns autores com base nos suportes de madeira que ainda se podem observar na capela-mor e que não foram aproveitados aquando do restauro do edifício.

Ainda no interior, destacam-se duas pedras tumulares, dos séculos XVI e XVII, que
correspondem aos enterramentos de Álvaro Lopes e de Senha de Martin Vaz Sampaio, homens de relativo peso no contexto regional da época moderna.

Em 1988, o telhado da sacristia ruiu. As obras de restauro, efetuadas em 1992 e 1996, pretenderam ser um projeto de intervenção integral, reforçando-se a estrutura, consolidando-se os aspetos decorativos e restaurando-se a pintura mural e o frontal de altar.  Mais recentemente, já em 2001, nova intervenção nas pinturas assegurou um relativo ponto de equilíbrio destas obras, ao mesmo tempo que se assegurou a permanência, em condições devocionais dignas, da romaria que se organiza, todos os segundos domingos de Maio, ao adro da igreja, em torno do cruzeiro quatrocentista que aqui ainda se conserva.

Mesmo em frente do local onde se construiu a capela de N. S.a de Guadalupe, passava a estrada romana, por onde se deslocavam as quadrigas romanas, a caminho de Braga, pela ponte de Piscais. Em frente à capela ainda se encontra um caminho, que faria parte dessa via.